31 de dez. de 2010

Tudo novo de novo.


Quem me acode à cabeça e ao coração
Neste fim de ano, entre alegria e dor?
Que sonho, que mistério, que oração?
Amor.    
                                        

{Carlos Drummond de Andrade}                                     


O ano acabou mas eu não acabei/quem sabe na contagem regressiva/eu exploda também.
{Bosta Nova - Lulina}


"Cada ano conhecemos pessoas novas, lugares novos ou sentimentos novos. A vida é isso: viver cada ano como um presente que não sabemos quanto tempo teremos em nossas mãos, mas que todos os dias abrimos com o frescor de uma descoberta." {Lívia Maria Lima}

29 de dez. de 2010

A dor de um amor em prantos.



Lágrimas Negras - Jorge Mautner/Nelson Jacobina
Na frente do cortejo
O meu beijo
Forte como o aço
Meu abraço
São poços de petróleo
A luz negra dos seus olhos
Lágrimas negras caem, saem, dóem
Por entre flores e estrelas
Você usa uma delas como brinco
Pendurada na orelha
Astronauta da saudade
Com a boca toda vermelha
Lágrimas negras caem, saem, dóem
São como pedras de moinhos
Que moem, roem, moem
E você baby vai, vem, vai
E você baby vem, vai, vem
Belezas são coisas acesas por dentro
Tristezas são belezas apagadas pelo sofrimento
Lágrimas negras caem, saem, doem
Os olhos, os cílios e o amor se tornam a mesma coisa
quando se vê pela primeira ou pela última vez.

28 de nov. de 2010

Com a benção de São Jorge Ben.

Samba menino bonito, samba
Coloca rock nessa roda, coloca
Jorge Ben na vitrola
Todo dia é dia de samba
Cavaco, pandeiro, viola
No fim da noite descendo o beco
Chega em casa no maior sossego
Quem guiou foi Deus
Quem amou foi você e eu.

A cuíca me quer.

O meu benzinho veio me falar
Que a cuíca voltou, a cuíca voltou
Voltou a gemer e me quer
Dançando Bezerra e Noel
Na Lapa, em Santa Teresa, sei lá onde é
Que a cuíca me quer
Eu só sei que já tô lá
A cuíca não pode esperar
Quem faz samba não dorme no ponto
Só perde roda de samba quem é tonto
E não gosta da morena mulher
Que chega gritando: "A cuíca me quer!"

Eu tenho samba.

Eu tenho samba no coração
Vai descendo pro pé
Balança o salão
Encanta mulher.

Eu tenho samba nos olhos
O moreno que vem
Tem beijos calientes
Ele é o meu bem

Eu tenho samba na vida
Que sujeita sortuda sou
Porque posso sambar
E ter muito amor.

11 de nov. de 2010

Cerejê moranguê framboê.

Chorei tantos guardas-chuva nos olhos do meu coração que não tem mais sertão no nosso amor. Pintei tantos morangos de azul turquesa mas nenhum se comparam a sua beleza. Andei nas nuvens quentes do seu abraço e o sol foi embora invejoso. O mar me disse que a força de um desatino é maior que onda afundando barco. Aquele mesmo barco que eu joguei na bacia cheia d'água que a lavadeira lavou as roupas. O barco que eu fiz pra me levar até você, na sua ilha que é diferente da minha, que é diferente da de todo mundo. Todo mundo tem uma ilha, todo mundo é uma ilha*.  Mas eu quero morar na sua, tomar da sua água, comer da sua tangerina e respirar do seu vento. Quero roubar cerejas, esconde-las de você, quero que peça beijos por cada uma encontrada e no final saboreamos a alegria do nosso amor, saboreio a alegria de te ter com camisa vinho e calça quadriculada. Meu vestido de framboesa vou colocar quando a fogueira acender e bailar com você um mambo bonito de ser ver, sandália rasteira branca que eu comprei no brechó perto de casa... longe de casa estou? Não, perto de você estou. Isso é o meu lar.

* Todo mundo é uma ilha - Engenheiros do Hawaii

Bicicletas, bolos e outras alegrias.





Achei interessante o título do disco. São as pequenas e simples coisas e muitas vezes vistas como perca de tempo por algumas pessoas, que fazem a vida valer a pena.
E aproveitando para recomendar muito esse novo álbum da cantora Vanessa da Mata. Lindo!






10 de out. de 2010

Mais uma reunião popular brasileira em pleno Rio de Janeiro de 1956.



Foi sem eu esperar. Sentada no banco da praia de Copacabana eles passaram cada um com seu charuto, cada um com seu olhar. Eles me chamaram para entrar no apartamento em frente do mar. Fomos andando devagarinho, atravessamos a rua e logo estávamos na porta. Tom foi logo dizendo para não reparar na desorganização, era o lar de um boêmio. Não, eu nem estava aí pra isso. Quando entramos lá vi reunidos Toquinho, Nara, Miúcha, Elis, Baden, João, Caymmi e Lyra. Não pude me conter de emoção, estava na casa de Antônio Carlos Jobim e conhecia ali naquele instante grandes músicos brasileiros... fiquei sem palavras. Logo percebi que a sala cheirava a inspiração. Mas não aquela que chega súbita, não. Era a que vinha sorrateira, como um sopro nos ouvidos, como um formigamento no coração. Aos poucos vi Tom e Vinicius comporem "A Felicidade". E esta frase é ambígua para mim pelo fato de que eles não só estavam escrevendo uma das canções mais conhecidas da música brasileira, mas estavam construindo aquele momento de extrema felicidade dentro de mim, uma lenta e doce imagem e som que guardo em meu coração com tanto carinho e zelo, com uma admiração e ternura além do que posso comportar, além do que qualquer coração jovem e sonhador pode comportar. Entre goles de whisky e baforadas no charuto cubano, eles iam transbordando aquela música na sala do apartamento. Foi lindo de se ver e ouvir, foi indescritível, foi como um súbito empurrão pelo abismo da trasnformação. Me joguei sem medo e sem qualquer chance de voltar atrás (e eu nem cogitava esta hipótese). Foi como ver os Beatles compondo "Let It Be", John Lennon compondo "Imagine", Jorge Ben compondo "Que Maravilha" ou Bono Vox compondo "With or Without You". Foi eternamente mágico para mim.

Mil e uma utilidades.

"Cantora performática, circense, bem-humorada, a carioca Silvia Machete diz que não faz showzinho, mas showzão."

Olha, o crítico que escreveu isso me instigou a ver um show dessa cantora carioca, totalmente irreverente e extravagante, assim como o seu segundo álbum "Extravaganza". Mas também pudera: a moçoila é além de cantora e compositora, é também malabarista e trapezista. Rodou a Europa em um ônibus todo equipado (aqueles que dão pra morar dentro literalmente) fazendo teatro de rua e divulgando suas ínfinitas artes. Com todas essas influências circenses não poderia ser diferente: ela transmite excentricidade. Ela mescla doçura com sensualidade, como ela mesmo já disse: "uma pitada de pimenta." E é isso mesmo: toda a inocência e delicadeza de sua voz bem acompanhados de letras calientes e apresentações igualmente picantes. Composições totalmente irreverentes, divertidas e gozadas. Silvia canta ao mesmo tempo que apresenta números com bambolê, malabares e o que mais lhe vier a cabeça. Sempre sensual com vestidos bem condizentes com o seu exotismo. O nome do seu segundo álbum me remete muito a cultura italiana (extravaganza em português quer dizer "Extravagante. Combina bem com ela, né?), já que a mesma é recheada de elementos bem exagerados: as danças, as comidas, o comportamento, mas também muito requintada e lapidada, como tudo o que se é extravagante. Porque para ser extravagante é necessário delicadeza, irreverência, ousadia... é necessário fugir dos padrões mas sem ser escrachado e vulgar. E é assim que a Silvia é: totalmente extravagante sem ser vulgar.
Há algumas músicas que me chamaram mais atenção que as outras e são elas: 'Sábado e Domingo", balada totalmente leve, "Manjar de Reis", música de Jorge Mautner e Nelson Jacobina, "Vou Pra Rua", "A Cigarra" (regravação em português feita pela Silvia da canção "Como La Cigarra", de Mercedes Sosa), "O Baixo" (canção bastante curiosa já que a letra faz alusão ao instrumento de forma erótica) e "Noite Torta" (regravação de uma música esquecida do grande Itamar Assumpção, que na minha opinião é uma das melhores do disco).
Atrás dessa voz minuciosa e deste apetrechos artísticos, está a cantora que une as mais variadas artes (porque ela também paga de atriz quando remexe seu corpo, faz caras e bocas e insinuaçõs faciais enquanto interpreta as músicas). Silvia se instaurou na minha lista das novas divas da música brasileira, veio para ficar e se fincar ao lado de Marina de la Riva, Nina Becker, Céu, Karina Buhr, Ana Cañas e tantas outras. É pedida obrigatória nas madrugadas frias ou quentes, tanto faz. Porque se estiver frio ela vai com certeza esquentar e se os termômetros estiverem nas alturas se prepare para o fervilho que esta cantora lhe trará.


16 de jul. de 2010

Homem-gooooooool!

Eu sempre fui muito fã de Jorge Ben Jor (desde a sua fase sem o Jor até a atual). Um músico que é a cara do Brasil e de sua diversidade, é um dos maiores expoentes do gênero sambalanço. Recentemente, um de seus maiores clássicos foi regravado por ele e por Mano Brown (do Racionais MC's). "Umbabararauma" ganhou uma nova roupagem, mas não perdendo a típica influência africana que traz nos seus acordes e batuques.
Contando com um time fino da música brasileira, como Pupillo e Gustavo da Lua (Nação Zumbi), Céu, Thalma de Freitas e Anelis Assumpção (Negresko Sis), Zegon, Duani, Daniel Ganjaman e Gabriel Ben Menezes, entre outros.
Essa canção é a mais pura manifestação da união das culturas africana e brasileira, a intimidade que elas tem dentro da música (e fora dela também, obviamente), tanto que esta música é do álbum "África Brasil", de 1976.
E além de tudo isso, de ver esta grande canção regravada por estes grandes músicos e compositores, as pessoas podem baixar a música e toda a renda arrecadada com a venda da mesma será revertida para a ONG Periferia Ativa que visa a inclusão social de jovens entre 13 a 20 anos, que tem o apoio da Nike.

Nike Sportewear: http://www.nike.com/nikeos/p/sportswear/pt_BR/umbabarauma




17 de jun. de 2010

Um som sushi na chapa com DJ e tamborim.




















Vídeo da música "Japan Pop Show" do músico paulista Curumin, canção que faz parte de álbum de mesmo nome, lançado em 2008. Coisa fina de primeira.

14 de mai. de 2010

Socializando a arte.

Sou uma grande admiradora e entusiasta de street-art.
Deixarei aqui alguns sites interessantes que eu achei sobre o assunto na internet com alguns trabalhos geniais:

http://www.barcelonastreetart.net/posters/posters.htm

http://www.woostercollective.com/

"De tudo que passava por lá e vinha pra mim..."

Eu me apaixonei pelo álbum 'Eu Menti Pra Você" da cantora e percussionista baiana, mas criada em Recife, Karina Buhr.
Já admirava a sua doce e linda voz na sua antiga banda, a Comadre Fulozinha (fantástica e que deixa saudades), mas agora pude ver todo o potencial de composição e interpretação desta mulher. É um disco delicioso de se ouvir, uma coisa incomum. Um álbum diferente, ousado, que foge de todos os padrões (e é isso que o faz ser esta maravilha que é). Eu não vou me alongar a dizer muita coisa deste trabalho solo da Karina não. Só ouvindo mesmo para se ter a real noção do que é este álbum, que se tornou obrigatório em meus dias. Sem contar que as músicas tem aquele ar de teatro, cada verso é como se fosse uma cena incenada. Fácil de saber de onde vem essa influência teatral e cinematográfica que ela traz consigo: Karina Buhr participou de duas peças de Zé Celso Martinez Correia: "Bacantes" e 'Os Sertões".
Aqui eu deixarei as melhores críticas que li deste álbum, todas elogiando (e com toda a razão).

http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u691978.shtml - Folha Online - Ilustrada

http://sombarato.org/node/1277 - Por Patrícia Palumbo

http://pe360graus.globo.com/diversao/diversao/musica/2010/02/17/NWS,507911,2,225,DIVERSAO,884-KARINA-BUHR-ESTREIA-SOLO-MENTI-PRA-VOCE.aspx

"Karina instiga. É atriz. Por isso, Eu Menti Pra Você, que abre o CD, tem poder hipnótico. A letra matreira, a interpretação insinuante, tentadora, entre o sensual e o ingênuo, cativa. Karina faz lembrar Marisa Monte, Chico Science, várias outras coisas. Mas é única, porque não se repete. O disco tem alternâncias, apesar de ser bastante autoral. E o sotaque de Recife, marcante, junto às referências teatrais e musicais formam um mosaico que, apesar de evocar coisas já consagradas, soa novo, revigorante. A mistura de ritmos nordestinos e música eletrônica é uma segunda geração do que o manguebeat fez com relação ao maracatu e ao rock." {Roberto Vieira}

Como conhecer mais o trabalho da Karina Buhr (e vale muito a pena, viu?):
Site oficial: http://www.karinabuhr.com.br/
Myspace: www.myspace.com/karinabuhr
Blog: http://mtv.uol.com.br/karinabuhr/blog

20 de mar. de 2010

Maquinando o som.

Depois do álbum de estréia do projeto parealo de Lúcio Maia, guitarrista da Nação Zumbi, chega aos nossos ouvidos o segundo álbum do Maquinado intitulado Mundialmente Anônimo - O Magnético Sangramento da Existência. Um álbum de 10 faixas deliciosas, duas instrumentais e riffles de guitarras frenéticos. Na minha percepção, este disco é "menos pesado" que o primeiro, as músicas são mais swingadas e tal, eu achei melhor que o primeiro.
Já começamos pela faixa "Zumbi", que conta a luta do líder negro contra a escravidão do seu povo. Essa música de Jorge Ben, que há muito tmpo é tocada por outro projeto paralelos da Nação, os Los Sebosos Postizos, ganha agora uma nova roupagem. Mais eletrônica e futurista, bem ao estilo do Maquinado.
"Dandara" segue a mesma linha, já que o título da música se refere à esposa de Zumbi, que lutou ao lado do marido contra a "dura vida que levavam" - parafraseando a letra.
Este disco eu considero até um pouco romântico, levando em conta faixas como "Bem Vinda ao Inferno", a fofíssima "Pode Deixar" e "Girando ao Sol".
"Super Homem Plus" é uma canção da banda pernambucana Mundo Livre S/A, que tem como plano de fundo o trompete do Guizado (projeto do trompetista Gui Mendonça).
Em "Tropeços Tropicais" quem comanda os vocais é a MC da banda paulista de rap e hip-hop Mamelo Sound System,  Lurdez da Luz. No primeiro álbum do Maquinado (Homem Binário), outro MC da mesma banda, o Rodrigo Brandão participou da faixa "Eletrocutado". Isso mostra uma das fortes influências do projeto, dentre tantas.
"Provando A Insanidade" tem uma letra que lembra muito a "Vendi A Alma", do primeiro disco. Uma música que entoa frases ditas por Lúcio Maia com riffles de guitarras pesadas e um gingado sambístico ao fundo, bem presente na maioria das músicas.
"Recado ao Pio, Extensivo ao Lucas"  é uma canção-resposta à uma música feita pelo guitarrista da banda  paraense Cravo Carbono, Pio Lobato, chamada "Recado Pra Lúcio Maia".
A faixa "SP" é a mais "tensa" do álbum, digamos assim. É instrumental e bem pesada e nela ouvimos barulhos de sirene, motos, carros, pessoas. Dá pra entender o porquê do título... é a constante movimentação da cidade de São Paulo, metrópole que nunca para e nunca dorme.

Particularmente, eu considero este álbum mais orgânico, mas ao mesmo tempo mais solto. O Lúcio assume o vocal na maioria das músicas, mostrando sua evolução e segurança para cantar desde o "Homem Binário".
Outra coisa que me chamou muito a atenção foi o título do disco, que continua seguindo a linha do pensamento cibernético e instantâneo do homem moderno, que vem cada vez mais se tornando máquina e fazendo dos seus atos ações automatizadas.
Enfim, é um belo trabalho do guitarrista que me impressionou muito e que sou admiradora, como sempre fui desde o primeiro momento que soube das investidas do Lúcio Maia na carreira paralela a Nação Zumbi.


P.S.: No site oficial do Maquinado tem três músicas disponíveis para download que não foram para o álbum. São elas: "Running Away", "Are You Experienced" e "Computer Love" de Bob Marley, Jime Hendrix e do Kraftwerk, respectivamente.
Site: http://www.maquinado.com.br/





 

28 de fev. de 2010

Samba, samba, sambaaaaaaa.

Vídeo de Lúcio Maia (guitarrista da Nação Zumbi) e Danilo Caymmi (filho do Dorival) tocando "Só Danço Samba", canção de Tom Jobim e Vinicius de Moraes.

http://mais.uol.com.br/view/92db81ral8qx/lucio-maia-e-danilo-caymmi--so-danco-samba-0402326AC8A90326?types=A

Porra, tá bom demais. Não canso de ouvir.

É perdida que me encontro.

Vou fugir de mim, vou fugir dos outros, vou fugir de todo mundo. Não sei quando volto [a certeza q voltarei transformada me alivia].  Ai, eu vou sumir um pouco. Sei lá, quando senti saudades volto para mim, para você, para todos. Não me deseje nada, só me mande boas vibrações. Quero que chova bastante, mas também quero um sol para me esquentar. Quero a solidão, mas também quero alguns amigos.

Adiós. Estou dando um tempo do mundo, das pessoas, de mim. Quando eu voltar, ah... eu vou ser diferente. Ou não, expectativas são uma grande desgraça na vida de uma pessoa.

24 de fev. de 2010

Sambo no jazzo, frevo na sombra, quente no som.

No embalo do meu clima sambístico, deixo aqui o texto do vocalista da Nação Zumbi (Jorge du Peixe) sobre o samba. Ele resume muito bem o ritmo, adorei.

Da enciclopédia galáctica da Afrociberdelia. Cap.: 003. Tão longe, tão perto

"Vi que nas periferias das grandes cidades do Brasil ainda residem resquícios da boemia antiga, da diáspora africana espalhada em novos quilombos. De um velho drama que tem como protagonistas a miséria e o desencanto. Desencanto floreado, entorpecido, com melodias nada simplórias... raiz nacional, resistência cultural, a memória de um povo que dribla as mazelas do dia a dia com um sorriso que vira mote e enredo. Grito maior da baixa voz dos desfavorecidos... que traz os mistérios de suas origens... do Recôncavo Baiano, passando pelos pagodes nos morros, que acendem e fazem o deleite do homem comum nas favelas, e sem demora descendo para o asfalto, fazendo dos clubes as telas... na Zona da Mata pernambucana, palco dos maracatus de baque solto, do esquema novo de Jorge Ben, do esquema noise da Mundo Livre S/A. Ainda escuto, seja em caixa de fósforos, seja em pandeiro, faca no prato ou no partido-alto, ecoando aos quatro cantos... Lembrando Donga, Candeia, João do Vale, Nelson Cavaquinho, Cartola, Pixinguinha, Bezerra da Silva, a velha guarda e a nova escola que compartilharam e compartilham a dor e a delícia em forma de canto ritmado, sincopado e alterado de um povo de sangue quente e alma fervente. Nesse solo, ritmo, poesia e dança são mais que urgentes! A memória gravada ou gritada nos acordes e batuques diários que acordam esquinas e emolduram desejos, esperanças e conquistas... tão longe, tão perto... simples, forte, original e eterno... isso é o samba." Jorge Du Peixe

22 de fev. de 2010

Seja de Noel Rosa ou de Cartola, ouvir Paulinho da Viola...

A cantora Céu não nega suas influências do reggae, jazz e do afrobeat. Mas ela também traz às suas canções o samba, o ritmo mais brasileiro dos ritmos.  E ela deixou isso bem claro em uma das suas canções, a 'Samba na Sola', do seu primeiro álbum.  Uma canção linda, que com a voz de Céu ganha ainda mais sentido pra mim, louca pelas raízes musicais brasileiras.

Samba na Sola
Composição: Céu e Alec Haiat

Brasileiro do banzo, do pandeiro
Calço qualquer calo mesmo
Como bom guerreiro e lutador
Comigo não tem gravata
E se acaso pego o trem errado
Vou-me embora
Mas vou com louvor

E com sua permissão
" Seu internacional "
Longe de mim qualquer desfeita
Pega mal
Mas esse dom é exclusividade
Samba na sola tem nacionalidade















E tem gente ainda que não entende porque não valorizo o axé e o arroxa. Tenha dó.

17 de fev. de 2010

Minha síndrome musical.

Na minha costumeira busca por bandas (antigas ou novas, época realmente não me interessa) descobri uma que me empolguei muito, a Munchausen By Proxy (curiosamente é o nome de uma síndrome em que os afetados fingem doença ou trauma psicológico para chamar atenção ou simpatia a eles.) É um electropop gostoso, daqueles bons de dançar. É uma banda com letras irreverentes e muito high techs, digamos assim.  A defino como 'vinda do futuro'. Na verdade eu descobri assistindo ao filme 'Sim Senhor', com Jim Carrey (um dos melhores atores de comédia, na minha opinião). Essa banda foi criada especialmente para o filme (uma lástima). A banda é formada só por mulheres e uma das vocalistas é a Zooey Deschanel (atriz protagonista do filme), que se juntou com a banda Von Iva (que ao contrário de tudo lido até agra, existe de fato e toca um electro soul-punk). Assim que ouvi alguns trechos das músicas durante o filme eu fiquei encantada e louca para baixar as músicas. São somente quatro, para a minha eterna tristeza. Mas digo, são quatro músicas incríveis. Tenho uma predileção toda especial por 'Yes Man' (faixa-título do filme, na versão original). É uma canção dançante que fala de aproveitar a vida, dizer sim aos momentos a nós oferecidos. Resume bem o que o filme quer transmitir, por isso é a música tema da película. 'Uh-Huh' é igualmente dançante e na sua letra cita redes sociais como o facebook e o myspace, deixando evidente todo o seu lado 'cibernético' e seu ar psicodélico.
Ah, por que bandas boas assim não existem de fato? Por que são criadas para filmes e não continuam depois? Poxa, isso me deixa puta da vida. Só não fico tanto porque no momento ouço uma das músicas da Munchausen By Proxy (já ouvi tanto que já sei detalhes dos detalhes da canção). É, acho que não será a última banda de filme que descobrirei na vida. Sempre que assisto a um, a primeira coisa que chama minha atenção é a trilha sonora, vasculho com os meus ouvidos à procura de um som desconhecido para mim.

14 de fev. de 2010

Colors.

Sabe, tenho pintado ultimamente as minhas unhas de cores bem 'chocantes', digamos assim. Podem pensar que eu começarei com aquele papo de moda e beleza de uma típica garota de 18 anos. Mas não, esse verdadeiramente não é o caso. É que eu tenho comparado este fato ao meu estado de espírito. Sempre amei cores fortes e surpreendentes, mas agora elas tem um significado mais maduro para mim. Eu sinto que é época de libertação, de desprendimento, como também é um sinal de que escondo por trás de todas estas cores ditas 'alegres' a minha angústia, o meu quase isolamento do mundo. Mas vou deixar essa fase perdurar em mim até onde der e depois... ah, só o tempo dirá (é aquele velho clichê mesmo a que me refiro). O tempo é o senhor das nossas vidas, dos nossos destinos.




Colors - Amos Leee
Composição: Amos Lee

Yesterday I got lost in the circus
Felling like such a mess
Now I’m down I’m just hanging on the corner
I can’t help but reminisce
Cause when you’re gone all the colors fade
When you’re gone no New Year’s Day parade
You’re gone
Colors seem to fade
Your mama called she said that you’re down stairs crying
Feeling like such a mess
Yeah I hear you you’re in the background bawling
What happened to your sweet summertime dress
I know we all, we all got our faults
We get locked in our vaults and we stay
But when you’re gone all the colors fade
When you’re gone no New Year’s Day parade
You’re gone
Colors seem to fade
Colors seem to fade

Yeah

3 de fev. de 2010

Made in Cuiabá.

Não gosto de Vanguart só pela grande influência que eles tem do Bob Dylan e dos Beatles não. Admiro a banda também pelo fato de eles me levarem a sentir sensações que não sinto normalmente. Algumas vezes são sensações alegres, mas na maioria das vezes são sensações melancólicas, nostálgicas, quase depressivas, porém boas de sentir. É extremamente contraditório isso, parece que sou masoquista ou algo do tipo. Mas não. Para mim faz todo sentido. Precisava de uma banda que me despertasse essa melancolia feliz, precisava desses dois extremos juntos. Sei lá o porque dessa necessidade, mas precisava dessa mistura, dessa incerteza. Na verdade, da certeza de que sentiria algo que aparentemente me faria sentir péssima, mas que surpreendentemente me faz tão bem.

Enquanto isso na lanchonete - Vanguart
Composição: Hélio Flanders

Pensei que ela
Fosse um dia mais diferente
Do que esses dias
Que eu costumo viver
Pensava ela no casamento
Eu no futebol
Era dezembro ainda me lembro
o sol, o sol, o sol, o sol.

Ela dizia que parecia uma despedida
Calçou os sapatos, vestiu minha roupa
Já não cabia mais
Enquanto isso na lanchonete

(cof, cof)
Ela dizia que parecia uma despedida
Calcei os sapatos, vesti sua roupa
Já não cabia mais
Enquanto isso na lanchonete
Os dois se encontravam
E renascia...

Pensava ela na alegria
Eu no feriado
Ela dizia que esquecia
Não acredito não
Ainda me lembro era domingo.



15 de jan. de 2010

Minha velha bossa nova.

Confesso que a Bossa Nova é uma das minhas maiores paixões, musicalmente falando. Nomes como Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Nara Leão, Dorival Caymmi, Toquinho, João Gilberto, Miúcha, Maysa, entre tantos outros que participaram deste movimento que teve início nos anos 1950, no Rio de Janeiro. Considerado um movimento musical de elite, já que foi o primeiro egresso das faculdades. O baiano João Gilberto é considerado o pai da Bossa e os seus maiores ícones são Tom Jobim e Vinicius de Moraes, grandes amigos e parceiros musicais. A Bossa Nova tinha letras que, constrastando com os sucessos de até então, abordava temáticas leves e descompromissadas. A forma de cantar também se diferenciava da que se tinha na época. Segundo o maestro Júlio Medaglia, "desenvolver-se-ia a prática do canto-falado ou do cantar baixinho, do texto bem pronunciado, do tom coloquial da narrativa musical, do acompanhamento e canto integrando-se mutuamente, em lugar da valorização da 'grande voz'".
Os maiores sucessos do movimento foram 'Garota de Ipanema', 'Chega de Saudade', 'Que Maravilha', 'Desafinado', 'O Barquinho', 'Eu Sei Que Vou Te Amar', 'Se Todos Fossem Iguais A Você', 'Águas de Março', 'Corcovado', 'A Felicidade', 'Insensatez', 'Tarde em Itapuã' e 'Samba De Uma Nota Só'. Recebeu críticas dos seguidores da dita música de protesto, que criticava o sistema vigente no Brasil nos anos 60, a ditadura militar.

Fiz uma poesia em homenagem a Bossa Nova, este ritmo que meche com o meu coração e faz eu ter saudade de uma época que eu nem vivi e de músicos que nem conheci, mas admiro de forma imensurável.

Minha Bossa Nova chegou de mansinho
Com o seu violão e o sussurro do Jobim
Eu senti no meu peito um carinho
Mas também uma paz como a flor de jasmim.

Eu nunca vou esquecer do Vinicius
Era da Gávea o meu poetinha apaixonado
Com seus vícios e resquícios
De amores e beijinhos perfumados.

E o seu e o meu Tom, este é eterno em meu coração
Não quero mais esse negócio dele longe de mim
Eu quero um barquinho a deslizar no mar, um avião no Galeão
Eu quero uma tristeza sem fim, mas quero felicidade sim.
Eu acho que amar é um tanto necessário, é alimento diário.



Sou
Sol

Sorri
Saltitei
Sonhei

Somei
Senti
Sentei

Sozinha
Salgada
Sabor de soro

Saí
Serena
Sumi.




                                                                                    
A bossa é velha
A fossa é nova
O amor é velho
A tristeza é nova
Mas a vida se renova
Deixando a lembrança velha

Como um assobio de um pássaro.

A bailarina e o Astronauta                                                        
Composição: Tiê

Eu sou uma bailarina e cheguei aqui sozinha.
Não pergunte como eu vim,
Porque já não sei de mim.
Do meu circo eu fui embora,
Sei que minha família chora.
Não podia desistir,
se um dia, como um sonho ele apareceu pra mim.
Tão brilhante como um lindo avião.
Chamuscando fogo e cinzas pelo chão.

De repente como um susto,
num arbusto logo em frente,
aconteceu uma explosão,
afastando a minha gente.

Mas eu não quis ir embora, não podia ir embora.
Como se nascesse ali um amor absoluto pelo homem que eu vi.
Poderia lhe entregar meu coração.
Alma, vida e até minha atenção.

Mas vieram as sirenes e homens falando estranho.
Carregaram meu presente como se ele fosse um santo.
Dirigiam um carro branco e num segundo foram embora.
Desse dia até agora, não sei como, não pergunte, procuro por todo canto.
Astronauta, diz pra mim cade você
Bailarina não consegue mais viver.


Está é a letra da canção 'A Bailarina e o Astronauta', da cantora paulistana Tiê. Ela tem uma belíssima voz e compõe letras lindíssimas, mostrando todo o seu talento como letrista. São músicas doces e que trazem uma paz, um aconchego para a alma.



Desde que venceu o tradicional Prêmio Fico do Colégio Objetivo, a cantora paulistana se tornou figura frequente nos palcos da noite paulistana. Primeiro como intérprete, depois experimentando composições próprias.


A certeza de seu caminho musical fez com que Tiê investisse em seu talento. Estudou canto em Nova Iorque, onde continuou sua carreira. O talento chamou a atenção de Toquinho, que a convidou para ingressar em sua banda. Tiê rodou o Brasil e o mundo com o músico e acumulou experiência.

Em busca da carreira autoral criou ao lado do amigo e parceiro Dudu Tsuda, o celebrado projeto Cabaret, que se notabilizou em dois dos melhores clubes de Sao Paulo: Vegas e Studio SP.

O período rendeu um EP à cantora, e uma excelente visibilidade na mídia: Tiê foi colocada em todas as listas de novas cantoras promissoras e destacada pela peculiaridade de seu som - bastante auto-biográfico.

Em 2008 Tiê preparou seu primeiro CD. Em nova parceria - agora com o produtor carioca Plinio Profeta - foram gravadas dez faixas de autoria própria, ao vivo, bem ao estilo low-fi –antiga tendência resgatada por novos cantores/compositores folk do mundo todo. O trabalho foi batizado de Sweet Jardim.

As quatro primeiras faixas (Assinado eu, Dois, Quinto Andar e Passarinho) são baseadas na voz e no violão tocado por Tiê e trazem arranjos incidentais e minimalistas que valorizam o lado musicista e romântico da cantora.

O tom sobe na quinta e oitava músicas (Aula de Francês e Stranger But Mine), que ainda trazem Tiê ao violão, mas com arranjos mais rápidos e próximos ao folk e letras que mesclam o francês e português (Aula de Francês) e o inglês (Stranger But Mine). Chá Verde (sexta faixa) introduz Tiê ao piano, e é a mais autobiográfica canção do disco. O piano com acompanhamentos incidentais se repete na nona faixa (A Bailarina e o Astronauta). As duas músicas explicitam a elogiada capacidade de letrista da cantora.

Por fim, a música titulo, Sweet Jardim, surge como uma celebração do trabalho, embalada pelos violões ciganos do mestre Toquinho, que faz participação mais do que especial no disco.
O trabalho, ainda conta com a concepção estética da estilista Rita Wainer, que também assina a capa.

{Retirado do myspace oficial de Tiê - www.myspace.com/tiemusica}

14 de jan. de 2010

Resquícios de mim.



















Na primavera sou a sua flor
No inverno, seu calor
No verão, seu sol
No outono, seu rouxinol.


Entrará e sairá estação
Eu continuarei em seu coração
Como o perfume da flor no jardim
E como o resto de neve na porta cor de marfim.

13 de jan. de 2010

A tarde, o vento e o mar...

Acabei de chegar da praia. Ai, como eu precisava ver e sentir o mar. Ouvir sua brisa e suas ondas explodindo em mim. Me sinto revigorada e com vontade de ficar por lá eternamente. Para mim, que moro em uma cidade não litorânea e fria, a praia é um lugar mágico. A areia e seus búzios, siris e estrelas-do-mar me fascinam. A tarde caia e eu ia caminhar até as pedras. Morri de vontade de andar de ultra-leve, mas infelizmente não andei. Mas valeu a pena só por ter visto o mar. O mar, tão grande e temeroso, mas que me faz tão bem.

E como praia me lembra Bossa Nova, aqui está uma canção que gosto muito:

O BARQUINHO
Composição: Roberto menescal/Ronaldo Boscoli

Dia de luz, festa de sol
E o barquinho a deslizar
No macio azul do mar
Tudo é verão, o amor se faz
Num barquinho pelo mar
Desliza sem parar...
Sem intenção, nossa canção
Vai saindo desse mar e o sol
Beija o barco e luz
Dias tão azuis
Volta do mar, desmaia o sol
E o barquinho a deslizar
E a vontade é de cantar
Céu tão azul, ilhas do sul
O barquinho é o coração
Deslizando na canção
Tudo isso é paz, tudo isso traz
Uma calma de verão
E então
O barquinho vai, a tardinha cai
O barquinho vai, a tardinha cai

5 de jan. de 2010

Sonantes: o herdeiro do 3namassa.



CARTA ABERTA AOS OUVIDOS FECHADOS ou SOBRE OS SONANTES & SEUS SONIDOS
Ilmos. Senhores(as) proprietários de aparelhos auditivos por ventura bloqueados, venho por meio desta solicitar-lhes a desobstrução de suas vias. É chegada a hora e a vez da cotonete! Reconheço, é bem verdade que nessa era caracterizada pela overdose de informação, a reação de tapar as orelhas muitas vezes faz sentido, pois o BPM da vida moderna acelera mais e mais a cada novo amanhecer, e nem sempre existe a chance de separar o joio do trigo. E, por isso mesmo, chamo atenção a esse... momento, esse encontro, essa convergência denominada Sonantes. Sim, porque nesse caso, “projeto” não é termo que explique bem a intenção. Afro, latino, cancioneiro, pernambucano, planetário, o disco se coloca, de maneira espontânea e imponente, na linha evolutiva da música daqui, ao valorizar muito a composição e a interpretação. Céu, a cantora que deslumbrou o Brasil e o mundo mas não se deslumbrou, é a voz que conduz esse trabalho, que, vale deixar claro, não é seu aguardado segundo álbum, mas uma verdadeira conseqüência do cotidiano. Tanto ela e seu parceiro Gui Amabis (compositor e produtor de background cinematográfico), quanto o irmão dele, o também produtor e trilheiro Rica Amabis (Instituto), e a dupla Dengue e Pupillo, mais conhecida como A Cozinha Da Nação Zumbi, residem todos no mesmo conjunto de prédios, nas Perdizes Paulistanas. Então, muito além dos palcos e estúdios, os cinco responsáveis centrais por essa obra dividem também as contas, o lanche na padaria, as piadas de bairro e os dias chuvosos. Quando os últimos se juntaram sob a alcunha de 3 Na Massa, o espírito já era meio esse, mas a troca das várias cantoras (convocadas para a estréia deles) pela dupla do edifício ao lado intensificou largamente o clima Lá Em Casa, que é uma das cores mais marcantes, um dos trunfos dos Sonantes. Isso sem falar em outro trunfo chamado Jorge Du Peixe. O linha-de-frente da Nação é praticamente uma entidade que páira sobre o disco todo. O cara co-assina a arte do encarte com Valentina Trajano (Arteria) e ainda deu nome à criança. Fora ele, outros comparsas, como Siba, Lúcio Maia, Beto Villares, Daniel Bozio, Toca Ogan, Fernando Catatau, Gustavo Da Lua, Pepe Cisneros, Sergio Machado, B-Negão e Apollo 9, também chegaram junto e contribuíram com performances (e, em alguns casos, composições) que completam o panorama em grande estilo. Agora, já ciente da receita, resta aos homens e mulheres de boa vontade apenas a opção de deixar os Sonantes soarem, e se deliciarem. Sem mais, me despeço, desejando boas audições.

São Paulo, Natal de 2007, Rodrigo Brandão.


Este manifesto de Rodrigo Brandão, MC do grupo paulista Mamelo Sound System, é um convite a desbravar o universo deste álbum, que para mim é indispensável aos ouvidos. Germinado a partir do 3namassa (projeto de Rica, Dengue e Pupilo, no qual cantoras interpretam as canções, enquanto músicos do sexo masculino escrevem as letras, em um nítido e assumido tributo à Chico Buarque, Serge Gainsbourg e ao desenhista de cunho erótico Carlos Zéfiro, Sonantes vem como um disco diferente, ousado e ao mesmo tempo sutil, doce e multifacetado. Não irei comentar todas as 10 faixas do álbum, só mesmo aquelas que mais me afetuei(salvo que adorei todas).
Começo por 'Carimbó', música da banda pernambucana do movimento manguebeat, Nação Zumbi. Regravada neste CD com grande maestria, quando ouço me sinto em uma roda de carimbó (dança típica do litoral paraense de origem negra, mas que também é considerada um gênero musical). Daí o nome da música. O timbre grave e carregado de Jorge Du Peixe (vocalista da Nação) dá lugar à voz delicada e em alguns momentos quase balbuceada de Céu.
Em 'Toque de Coito', a canção mais sensual e erótica do CD, fica evidente a sua relação e intimidade com o 'Na Confraria das Sedutoras', álbum do 3namassa altamente envolto em um erotismo elegante.
Cantada por Siba (ex Mestre Ambrósio e que atualmente toca com o grupo A Fuloresta), mostra os resquícios de projetos preexistentes dos membros da banda.
'Mambobit' é a mais dançante. Como o próprio nome já diz, é norteada pela 'caliência' do mambo (ritmo surgido em Cuba). A voz de Céu acompanha a música como um instrumento. Não há letra, é quase que totalmente instrumental.
Em 'Defenestrando', Céu mostra toda a sua competência como compositora. A letra é divertida e origianal e a canção tem uma batida envolvente e gostosa de ouvir. A melhor música do trabalho, na minha opinião.
'Quilombo Te Espera' mostra a influência inevitável da Nação Zumbi e que me fez lembrar também Jorge Ben, quando em suas composições, na década de 60 e 70 cantou as lutas do guerreiro Zumbi dos Palmares.
'Itapeva' me remeteu às canções de ninar, porém um pouco mais moderninha. Juntamente com B-Negão, Céu cantarola um 'deradandá', que para mim não significava nada até pesquisar o que significava Itapeva. Descobri que é um município do estado de São Paulo e nele existe um ponto turístico denominado Muro dos Escravos (construído pelos mesmos). Por saber da grande influência do projeto com a cultura africana, deduzi que quiseram representar o canto de tristeza e solidão dos esravos em meio ao sofrimento, como um canto de lamento.
'Braz', composta por Gui Amabis, fala da vontade de se estar perto do mar e que mesmo longe dele, a alma o traz docemente, como se nunca o tivesse visto.
'Frevo de Saudade' é nitidamente um frevo animadíssimo, que nos faz lembrar as marchinhas do carnaval de Recife e Olinda, com suas cores e sons.

Sonantes é um álbum para se ouvir sem nenhuma pressa ou cobranças. É extremamente suave e marcante. Quem o ouve nunca mais quer deixa-lo de ouvir. É como um momento que você nunca quer que tenha fim, mas se sente revigorado quando ele acaba.

Uma voz vagarosa no meio da casa.

Maria do Céu Whitaker Poças, mais conhecida como Céu, despontou no cenário musical no ano de 2002. Com uma voz suave, me conquistou instantaneamente. Em 2007, ela lançou seu primeiro álbum de nome homônimo. Diga-se de passagem, uma pérola raríssima.

Seu trabalho traz influências tanto de música originalmente brasileira (particularmente o samba), como do hip hop, afrobeat, jazz, R&B, etc. Ela já afirmou em entrevista que não rejeita o rótulo de MPB, mas considera que ele já ficou limitado. Para mim, ela veio compor a nova safra de cantoras brasileiras que encantam pela diversidade e riqueza de sua música. Cantoras como Mariana Aydar, Marina de la Riva, Ana Cañas, entre outras que sabem misturar ritmos sem perder o ritmo.



Indico para todas as pessoas que curtem música popular brasileira mixada a reggae, dub, samba, hip-hop, jazz e R&B a escutarem o mais recente álbum de Céu intitulado Vagarosa (na imagem acima). É encantador e para mim um dos melhores de 2009. Você o escuta na curiosidade de descubrir os detalhes. Sempre quando ouvi-lo descubrirá novos sons, timbres, barulhos. Eu me apaixonei por esta cantora e agora por este seu segundo trabalho, que sempre coloco para ouvir de tardizinha, quando estou sentada na anti porta da minha casa, quando o sol bate em meu corpo. Me sinto tão leve, mas ao mesmo tempo tão fincada sobre a terra quando ouço este disco. É como se levitasse, mas também como se me prendesse ao chão. Paradoxal isto, mas é o que sinto. No meio da casa eu canto, danço e percebo cada pequenino detalhe que a voz de Céu pode me oferecer nesta viagem musical, pois quando menos percebe você é levado do Brasil à Jamaica em intantes, passando pelos Estados Unidos e seguindo viagem pelo resto do mundo. É isso que este disco traz: influências musicais de todo o planeta mescladas aos ritmos brasileiríssimos, como um encaixe perfeito.

Boa viagem/Good trip/Bon voyage/.

Derramando palavras no papel versão blog.

É, resolvi fazer um blog para escrever tudo o que penso acerca das coisas cotidianas, das músicas que ouço, textos que leio, vídeos que vejo. Enfim, de tudo o que gosto e me dá prazer. Este blog também (e principalmente) será um espaço em que reunirei meus poemas, textos, contos que já escrevo no papel, mas 'digitalizarei', digamos assim. Não há nada igual ou parecido do que escrever em uma folha de papel, por isso continuarei minhas viagens literárias no meu velho e bom caderno. Mas não vejo nada de errado escrever aqui também, já que ele será lido de qualquer forma e estarei me expressando da mesma maneira.
Só realmente espero poder atualiza-lo sempre.

Eu sinto um grande prazer em escrever e sou uma mera aprendiz nesta arte. Sou apaixonada pela literatura, pelo ato de mostrar o que se sente através de palavras. Isso me fascina de tal forma que já é obrigatório eu estar sempre escrevendo algo. Meu pai, apesar de hoje seguir outra profissão, já foi poeta. Inclusive já publicou uma coletânea de poesias escritas por ele. Apaixondo assim como eu pela arte de escrever, por causa da vida moderna, que fez dele um pouco escravo do trabalho e da falta de tempo para os prazeres da vida, escreve muito pouco, atualmente. Diria até que perdeu o encanto e gosto de escrever (uma grande lástima). Mas continua lendo os livros dos seus escritores preferidos. Não sei se esta vontade (ou dom, como alguns sugerem) eu adquiri devido a ele, mas não nego que vendo o meu pai imerso em livros, poemas, sempre citando nomes como Carlos Drummond de Andrade, Castro Alves e Vinicius de Moraes foram estímulos para eu começar a escrever.

Enfim, eu me sinto bem quando escrevo. Uma sensação inexplicável, algo que precisa ser feito para ser compreendido. Só consigo dizer que é algo libertador, prazeroso, algo que enriquece a alma, ao mesmo tempo que a faz mais leve. Te leva a outros mundos, a outras visões de vida. Te engrandece de tal forma que muitas vezes você se torna maior que suas palavras, se isso por acaso pode ser possível, já que as palavras são grandes muralhas da nossa existência e do nosso ser.